Jeremy Allaire antecipou o futuro em três momentos decisivos. O primeiro foi em 1990, ao perceber o potencial revolucionário da World Wide Web numa época em que o termo “internet” sequer era conhecido da maioria. Essa visão levou à criação do ColdFusion e fez com que ele se tornasse milionário.
O segundo acerto ocorreu em 2002, quando previu que qualquer pessoa poderia distribuir vídeos globalmente, sem depender de redes de televisão. Deste insight nasceu a Brightcove, resultando em centenas de milhões em ganhos.
O terceiro veio em 2013, ao identificar que criptomoedas poderiam servir de base para um sistema financeiro totalmente novo — um palpite que está transformando para sempre a maneira como o dinheiro é entendido.
Com 54 anos, Allaire passou três décadas desenvolvendo a infraestrutura invisível que sustenta a era digital. Seu maior feito, a stablecoin USDC, movimenta trilhões de dólares em transações por ano e estabeleceu a ponte entre as finanças tradicionais e o universo cripto.
Mas, para quem construiu uma carreira enxergando onde ninguém via, Allaire não pensa em parar de criar o futuro.
Seed phrases. Troca de redes. Carteiras confusas. Isso não são recursos, e sim obstáculos.
A NEAR Foundation está desenvolvendo a infraestrutura necessária para transformar esse cenário.
Eles apoiam ferramentas e protocolos que tornam o Web3 acessível a todos — não apenas a desenvolvedores e usuários veteranos de cripto.
Veja o que isso significa na prática:
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O colega de quarto de Jeremy Allaire fez o impensável: trabalhando no setor de TI da faculdade, conseguiu uma conexão de internet para o quarto. Em uma época em que “web” remetia apenas a teias de aranha, Allaire estava diante do futuro.
Na primeira vez em que se conectou, sua visão mudou completamente.
Ele enxergou imediatamente: “Isso vai mudar o mundo” — e não era apenas entusiasmo juvenil. Quando se formou, em 1993, a web já era sua paixão central.
Pense no momento: ele vivenciou a internet antes do Netscape, antes de se cogitar o Yahoo, antes de o termo “ciberespaço” se popularizar. Allaire teve um vislumbre do próximo capítulo da civilização.
Mas o alicerce para isso começou anos antes.
Aos 13 anos, Jeremy propôs aos pais: emprestem-me US$ 5.000 para abrir um negócio de troca de cards de beisebol. O pai, Jim, era psicólogo. A mãe, Barb, editora de imprensa. Ambos entendiam de pessoas e informação, mas o adolescente estava pedindo um valor considerável para negociar “pedaços de papelão”.
Enquanto outros garotos colecionavam cards por diversão, Jeremy identificava ineficiências de mercado, tendências de preços e oportunidades de arbitragem.
Ele dobrou o dinheiro dos pais.
Jeremy tinha um desafio: ninguém sabia do que ele estava falando. Internet? Era desconhecida no meio empresarial. Então, decidiu fundar a própria empresa.
Surgiu a Global Internet Horizons, oferecendo consultoria a editoras que tentavam entender aquela “web” misteriosa. Só que consultoria não mudaria o mundo.
Fundaram a Allaire Corporation com US$ 18.000 das economias do J.J. Era tudo o que tinham.
A parceria era perfeita: J.J. comandava a programação e Jeremy as necessidades do mercado. Era 1995, antes do Netscape dominar os browsers ou das empresas entenderem que web significava negócios.
ColdFusion foi lançado e mudou tudo quase instantaneamente. O software converteu páginas estáticas em aplicações interativas capazes de acessar bancos de dados, gerenciar usuários e processar transações.
Empresas como MySpace, Target, Toys “R” Us, Lockheed Martin, Boeing e Intel passaram a criar sites dinâmicos sem precisar de equipes enormes de desenvolvedores. O ColdFusion virou base para o e-commerce, gestão de conteúdo e impulsionou o boom das pontocom.
Com uma equipe de doze pessoas em Minnesota, atingiram lucratividade rapidamente.
Antevendo o crescimento acelerado da web, associaram-se à Polaris Ventures em Boston e captaram seu primeiro grande investimento: US$ 2,5 milhões.
Ao tentar migrar para o Vale do Silício, ouviram de um locador que eram “pequenos demais”. Foram para Boston — um recuo que provavelmente foi sua salvação. O ecossistema local oferecia recursos e talentos sem o clima tóxico do Vale.
O faturamento anual saltou de pouco mais de US$ 1 milhão em 1996 para cerca de US$ 120 milhões em 2000. Chegaram a mais de 700 funcionários, com escritórios na América do Norte, Europa, Ásia e Austrália. Em janeiro de 1999, abriram capital na NASDAQ e provaram: a internet era muito mais que hype.
Em março de 2001, receberam a ligação que mudaria tudo.
A Macromedia quis comprar a Allaire Corporation — por US$ 360 milhões.
Jeremy, então com 29 anos, estava prestes a se tornar multimilionário.
Ele aceitou. Jeremy e J.J. venderam a Allaire para a Macromedia. Jeremy virou CTO da gigante de multimídia, enquanto J.J. saía do setor de tecnologia para outros rumos.
Em 2002, Jeremy Allaire entrou no conselho da Macromedia com uma ideia ousada.
Como CTO da companhia, ele compreendia os números: o Flash — plataforma multimídia da Macromedia — rodava em 98% dos PCs do mundo. A banda larga se expandia. Tudo pronto para algo inédito.
Propôs o Project Vista: sistema baseado no browser para capturar, enviar e publicar vídeo em qualquer site. Qualquer transmissor poderia atingir audiências globais.
Pense no YouTube, mas anos antes do Google criar uma plataforma de vídeos.
Os executivos ouviram, mas cancelaram o projeto.
Jeremy viu a empresa desperdiçar a chance de liderar o futuro da mídia. A mesma Macromedia que popularizou o Flash recusou ser pioneira do vídeo online.
Jeremy Allaire pediu demissão em fevereiro de 2003.
Os colegas acharam que ele enlouquecera: CTO de uma gigante, salário alto e produtos estratégicos. Por que largar tudo?
Porque ele já enxergara o futuro — e a Macromedia não queria segui-lo.
Jeremy tornou-se Entrepreneur-in-Residence na General Catalyst. Por um ano, analisou tendências e preparou-se para enfrentar toda a indústria de TV, aguardando o momento ideal.
Em 2004, cofundou a Brightcove, visando criar “um ambiente onde produtores de vídeo independentes pudessem publicar conteúdos diretamente para quem assiste, sem depender das redes tradicionais”.
Desta vez, Jeremy decidiu captar fundos de VC desde o início e crescer rápido: desafiar a TV exigia escala e parcerias com grandes produtores.
O propósito da empresa refletia sua crença no poder democratizador da tecnologia. E o crescimento comprovou: criadores que não tinham acesso à televisão agora alcançavam o mundo. Cineastas independentes conseguiam contato direto com o público.
A Brightcove abriu capital em 2012, valendo US$ 290 milhões, e Jeremy ficou com 7,1%.
Ele criou um marketplace que permitia milhares de criadores alcançarem audiências globais sem depender do aval de grandes redes. Mas, ao ver a Brightcove conquistar o vídeo online, Jeremy deixou o cargo de CEO para se tornar chairman em 2013.
Por que sair de novo, quando tudo funcionava? Porque Jeremy já antevia o próximo ciclo.
Em 2013, Jeremy Allaire mais uma vez encarava uma tela de computador, como fizera no dormitório em Minnesota duas décadas antes.
Desta vez, pesquisava sobre Bitcoin.
A crise de 2008 o fez questionar o sistema bancário. Lehman Brothers havia falido. Bear Stearns corrompido. O sistema financeiro mundial quase desabou — Jeremy buscava um novo caminho.
Ao conhecer o Bitcoin, sentiu um déjà vu. “Senti o mesmo na moeda digital, especialmente com o Bitcoin”, declarou à Fortune. “Estamos nos estágios iniciais de uma tecnologia capaz de mudar o mundo tão profundamente quanto a web.”
Ele viu um “sistema universal de infraestrutura do dinheiro, como o HTTP foi base da difusão da informação pela internet”.
Em outubro de 2013, Jeremy cofundou a Circle ao lado de Sean Neville.
A ideia era criar a primeira moeda realmente global, baseada na internet e em padrões abertos, como o Bitcoin.
O projeto logo atraiu Accel Partners e outros VCs. Todos percebiam que não era mais do mesmo em finanças; era disruptivo.
Jeremy queria criar dinheiro programável, capaz de liquidar pagamentos quase instantaneamente e a custos irrisórios. O propósito não era aprimorar serviços existentes, mas inaugurar categorias globais sem os vínculos bancários antigos que tornam transferências internacionais lentas e caras.
No início, os apps de Bitcoin e mesas de trading da Circle não vingaram como esperado. O grande salto veio quando Jeremy diagnosticou que o problema era a volatilidade — não a tecnologia.
Em parceria com a Coinbase, via Centre Consortium, a Circle lançou a USD Coin: uma stablecoin com lastro em reservas reais de dólares. Cada token USDC equivale a um dólar americano.
Agora, empresas podiam acessar os benefícios das criptomoedas — transferências globais instantâneas, liquidez 24/7, contratos inteligentes — sem ficarem sujeitas à volatilidade do Bitcoin.
A estratégia regulatória escolhida por Jeremy era ousada. Em vez de operar em zonas cinzentas como parte do mercado cripto, a Circle atuou lado a lado com os reguladores para garantir máxima transparência e compliance.
Isso às vezes colocou a Circle em desvantagem, já que concorrentes desprezavam compliance e cresciam mais rápido. Mas Jeremy apostava no longo prazo.
Em 2025, a USDC já era a segunda maior stablecoin em valor de mercado, superando US$ 64 bilhões em circulação. Empresas passaram a usá-la em remessas internacionais. Desenvolvedores criaram apps sobre ela. Pessoas comuns enviam valores para o exterior em segundos.
O sucesso de Jeremy aconteceu apesar do que o mercado classificou como um dos desafios de distribuição mais difíceis do setor. Ao contrário da Tether, que teve adoção via exchanges asiáticas, a Circle precisou construir sua rede do zero.
A solução foi uma parceria estratégica com a Coinbase: a Circle entrega 50% da receita líquida de juros em troca da distribuição na rede Coinbase.
Caro? Sim. Funciona? Sem dúvida.
A USDC consolidou-se como a principal alternativa à Tether nos mercados do Ocidente.
10 de março de 2023, Dubai. Era para ser o fim de semana do 13º aniversário do filho de Jeremy.
O telefone toca às duas da manhã.
O Silicon Valley Bank estava quebrando — e a Circle mantinha ali US$ 3,3 bilhões das reservas da USDC.
Em poucas horas, a USDC saiu da paridade com o dólar e chegou a US$ 0,87. O mercado entrou em pânico. Tudo o que Jeremy construiu em cinco anos esteve à beira do colapso.
Jeremy reuniu uma equipe de crise no Google Meet, oito horas à frente da equipe da Costa Leste dos EUA. A festa do filho foi esquecida: agora era hora de proteger milhões de clientes.
Plano A: transferir fundos para outros bancos, imediatamente.
Plano B: usar o seguro do FDIC para cobrir perdas.
Plano C: vender os ativos do SVB com desconto a empresas interessadas.
Enquanto todo o crypto acompanhava, Jeremy assumiu a responsabilidade: a Circle cobriria qualquer prejuízo caso o SVB não recuperasse os depósitos.
A crise pôs à prova tudo o que Jeremy sempre defendeu: transparência, responsabilidade e ética mesmo nos momentos mais difíceis.
A Circle publicou comunicados detalhados explicando cada passo e como proteger os clientes.
Três dias depois, reguladores federais garantiram os depósitos do SVB.
A USDC retomou a paridade com o dólar. Crise encerrada.
Jeremy mostrou que a Circle é resiliente e mantém a confiança dos usuários mesmo sob forte pressão. A decisão de trabalhar junto aos reguladores — e não à margem da lei — foi crucial.
Durante a evolução da Circle, Jeremy tornou-se o principal defensor das criptomoedas por regulamentação clara. Muitos fundadores preferiam mínima regulação. Jeremy depôs no Congresso, participou de grupos regulatórios e dialogou com autoridades globais para moldar políticas públicas cripto.
A Circle foi o primeiro grande emissor global de stablecoins a cumprir o Markets in Crypto Assets da União Europeia em 2024.
Leia: Circle Wins EU 🏆
A estratégia dava frutos.
Jeremy então decidiu abrir o capital da Circle.
O processo não foi simples. A primeira tentativa, via fusão com uma SPAC em 2021, não obteve aprovação da SEC. Mas Jeremy persistiu.
Em julho de 2025, a Circle abriu capital na Bolsa de Nova York.
O prospecto mostrou uma empresa robusta, com receitas sólidas, total aderência regulatória e um modelo de negócios escalável. O IPO avaliou a Circle acima de US$ 4,6 bilhões. A aposta em stablecoins compensou amplamente.
Hoje, Circle é negociada sob o código CRCL e seu valor de mercado já supera US$ 40 bilhões. As ações valorizaram mais de 430% desde o IPO de julho, tornando a visão de Jeremy uma das estreias mais bem-sucedidas do setor cripto em bolsa.
Leia: Circle’s Wild Ride 🎢
Jeremy acredita que as stablecoins estão próximas do chamado “momento iPhone”: quando uma tecnologia atinge total utilidade e acessibilidade, promovendo adoção em massa.
Em 18 de julho de 2025, o presidente Donald Trump sancionou uma nova legislação que coroou o trabalho de Jeremy Allaire na última década. O GENIUS Act tornou-se o primeiro marco regulatório abrangente dos EUA para stablecoins. A escolha pelo compliance posicionou a USDC de forma ideal.
O GENIUS Act contemplou três pontos defendidos por Jeremy há anos: primeiro, estabeleceu que stablecoins não são valores mobiliários, resolvendo inseguranças regulatórias; segundo, exigiu lastro total em ativos seguros como títulos do Tesouro, assegurando reservas transparentes; terceiro, obrigou emissores de stablecoins a seguir os mesmos critérios de compliance dos bancos tradicionais.
Jeremy passou anos estruturando essa infraestrutura — agora, governos do mundo correm para adaptar-se à era do dinheiro programável.
O visionário que percebeu o potencial da web em 1990, a democratização do vídeo em 2002 e a revolução cripto em 2013, viu sua terceira previsão transformar o dinheiro.
Em um setor que valoriza velocidade e rupturas, Jeremy comprovou que as maiores inovações surgem da paciência, persistência e da visão rara de enxergar o que poucos conseguem.
Três previsões. Três indústrias impactadas. E, se o histórico se repete, as maiores transformações ainda estão por vir.
Por hoje, encerramos com o fundador da Circle. Na próxima semana, trago outro perfil intrigante.
Até lá, mantenha-se absolutamente curioso,